sábado, março 17, 2007

Jornal o Diário - 28 Janeiro 1983

Como todos sabemos a questão da criação do Concelho de Canas é um problema que tem mobilizado e feito sonhar muitas gerações de Canenses. Devido ao empenho da população e às acções levadas a cabo pelas pessoas que encabeçaram o movimento, tornou-se numa questão Nacional a que ninguém fica indiferente.


Como prova disso aqui fica parte de uma reportagem feita pelo Jornal o Diário (edição nº 20 de 1983), no suplemento Vida Local, que aborda diversos problemas do concelho.

Futuramente conto dar seguimento à reportagem publicando o restante material integrante da reportagem (derby Canas-Nelas, Fornos Eléctricos, Minas da Urgeiriça...).






Canas de Senhorim é o tema central em Nelas


Estamos em Nelas, entre o Mondego e o Dão, quatrocentos metros acima do nível do mar.
O ar fino e seco de meia altitude dulcifica a vida, como se escreveria num panfleto dos anos 40.
Estamos no coração da Beira Alta, enquadrado pelas muralhas da estrela e do Caramulo e pelos rios da Poesia e do Vinho.
Estamos num planalto pleno de panoramas policromos – o violeta das montanhas distantes, o verde dos pinhais, o castanho das vinhas vindimadas, o vermelho das telhas sobre o granito.
Esta é a pátria da fruta mais aromática e daquele que já foi chamado do soberano dos vinhos de mesa.
Estas são as Terras de Senhorim, terras cheias de história dos primeiros tempos de Portugal e de tradições municipalistas ainda bem vivas.
Este é o jovem concelho de Nelas, onde só a vila sede possui água canalizada para os domicílios.
Este é o município de Nelas a braços com a vontade férrea do povo de Canas de Senhorim de restaurar a sua independência administrativa.
E esta vontade, que podemos verificar a cada passo, é a grande questão da actualidade no tal coração da Beira Alta, no referido planalto policromo, na pátria da fruta aromática e do rei dos vinhos nas tais Terras de Senhorim.

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À independência da freguesia de Canas de Senhorim; ao concelho perdido há 116 anos nas incertezas do reformismo liberal e do seu pseudo-centralismo, como dizem os restauradores; à autonomia ciclicamente reivindicada pelos canenses, todos os assuntos estão hoje ligados.
Para se falar da restauração do município de Canas de Senhorim não é preciso entrevistar, como fizemos, o movimento amplamente unitário, rigorosamente apartidário, que persegue tal objectivo; não é necessário passear pela bela povoação de Vale de Madeiros, sem água nem esgotos, e ouvir dizer que “quando Canas tiver uma Câmara…”
A questão está presente em todas as conversas, especialmente agora, em períodos como este de luta acesa entre a freguesia rebelde e a sede do concelho, entre o poder local de Canas de Senhorim e o poder central de Lisboa que tenazmente retarda a restauração – ao que parece inevitável do município.
“o diário” , neste Suplemento de Vida Local, não pôde, nem queria fugir à questão e ouviu os interessados. Falou em Nelas com os que são de Nelas e em Canas de Senhorim com os que não querem ser de Nelas.
Ouvimos as razões de uns e de outros, as queixas volumosas dos canenses, um certo temor por parte dos nelenses de que a saída de Canas de Senhorim, com o seu potencial industrial, signifique o desmoronamento do actual concelho.

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É difícil, em Nelas, falar de outra coisa que não o problema de Canas. Nos Fornos Eléctricos que poluem os prados do concelho e põem em risco a vida dos metalúrgicos, falou-se em Canas de Senhorim; nas Minas da Urgeiriça que não sabem o que hão-de fazer ao urânio nacional, o movimento restaurador também veio à baila, como no diálogo com os agricultores desprezados de Senhorim e Carvalhal Redondo, como na conversa com a população combativa de Santar.
O caso do momento foi até simbolizado num renhido jogo de futebol do distrital de Viseu, entre uma equipa de Nelas e outra de Canas de Senhorim. Só não conseguimos ouvir sobre a questão o presidente da Câmara Municipal de Nelas, eleito em 12 de Dezembro do ano passado. É um facto que lamentamos. Contávamos com as suas palavras para expressar as apreensões e os argumentos daqueles que em Nelas são contra o concelho de Canas. Mas a política partidária cria embaraços assim em casos como este. Veja-se o sacrifício de Vizela na Assembleia da República.

in Jornal o Diário , 28 Janeiro 1983

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