segunda-feira, abril 09, 2007

Jornal O Diário (III)

“Canas merece recuperar o concelho”
-afirma o movimento para a Restauração do Município


Pela sede do concelho
Canas foi sempre esquecida
Façamos o que pudermos
Para lhe dar nova vida

(António Pedro Pega, 10 anos – Escola Primária de Canas de Senhorim)

A vontade de ser concelho e de se tornar independente da administração de Nelas, está enraizada na população de Canas de Senhorim que fala abertamente da questão, com humor cruel ao chamar avenida de Nelas a um caminho enlameado, com amargura ao mostrar a sua Escola Técnica do Dão que, por «razões políticas», não leva o nome da terra onde está implantada.
Da velha senhora Emília que mora na Rua do Paço à miudagem da primária de Canas todos fazem fincapé na recuperação do município perdido há cento e tal anos. É natural que haja um ou outro canense satisfeito com o actual vínculo administrativo mas não se manifesta.
A sala da Junta de Freguesia, uma assoalhada pequeníssima, mal comporta os jornalistas e os homens do Movimento para a Restauração do Concelho que se reúnem para dar a entrevista.
O advogado Edgar Figueiredo surge como líder do grupo formado por João Rodrigues Leandro, Luís Marques, Francisco Custódio Marques, António João e Arlindo Oliveira, entre outros. Mas não é o líder – serve apenas de porta-voz nesta conversa.
O movimento tinha estado na véspera a falar com os grupos parlamentares da Assembleia da República. Trocara impressões com os deputados da Nação, acerca da Lei-Quadro de formação de municípios e tentara que o seu problema fosse agendado com o de Vizela. Não conseguiram e, se calhar, foi melhor assim, uma vez que a direita chumbou no Parlamento as aspirações dos vizelenses, como cortaria está visto, as dos canenses.
Estes mostraram-se mais moderados na forma de reivindicar, em relação a Vizela, «Mas se Vizela ganha por usar de maior violência, nós aprendemos, diz Edgar Figueiredo.

Concelho Rico

Entretanto, Canas bate-se para que a Lei-Quadro não atenda apenas a factores como o número de eleitores, quilómetros quadrados a integrar no novo município e outros factores numéricos. Sabe que por aí não vai lá. «As nossas principais razões são históricas e económicas. São razões culturais», diz o porta-voz do movimento.
«Não é só o facto de Canas de Senhorim ser a principal freguesia do distrito de Viseu. O próprio povo sente, quer ser concelho! Produzimos grande parte da riqueza do distrito e da Beira Alta. Temos direitos!», acrescentam.
O rendimento por cabeça no concelho de Nelas era em 1970 de 176 contos e participava no produto interno bruto com 2700 milhares de contos, enquanto que o mesmo número referente a todo o distrito era de 5,9 milhões de contos. Por isso, dizem os canenses que «vivem no concelho mais rico do País e ao mesmo tempo no concelho mais pobre.»
Estarreja tem um rendimento per capita de 130 contos; a Figueira da Foz tem 82 contos e, por exemplo o Barreiro tem 60 contos em 1970», explica Edgar Figueiredo. «Somos ricos e pobres por aquilo que tiveram oportunidade de ver: somos uma colónia sem direito a esgotos, sem direito a água, sem direito a uma sede de Junta condigna
.
«Temos uma estação ferroviária que ora é a 2ª, ora é a 3ª em rendimento para a CP. Os rápidos não param aqui. A Câmara de Nelas, entretanto está a gastar dezenas de milhares numa estrada de 20 metros de largo para ligar a sede de concelho às Caldas da Felgueira, quando todo o trânsito para as termas se faz por Canas, numa estrada deteriorada propositadamente, quando a estrada que liga Canas à Aguieira tem quatro metros de lado e dá acesso a todos os trabalhadores dessas terras que vêm trabalhar em Canas.

Degradar

O Movimento para a Reconstrução do Concelho afirma que «Nelas faz tudo para degradar a nossa terra; aponta zonas industriais para zonas longe da estação de caminhos de ferro; faz obras de fachada na sede de concelho e deixa-nos sem nada».
Edgar Figueiredo e seus pares falam, a título de exemplo, da história de um emigrante que ganhou a lotaria na RFA. Quis fazer uma casa em Canas e a Câmara de Nelas negou-lhe tal direito afirmando que a habitação pretendida pelo canense não cabia no terreno que este possuía.
«Venha construir isso aqui em Nelas que a gente até lhe dá o terreno», dizem os homens de Canas que a Câmara de Nelas disse ao emigrante. E só o bairrismo do construtor impediu que a magnifica casa fosse parar fora de Canas de Senhorim. O emigrante teve que recorrer aos serviços urbanísticos de Viseu, afirmam.
As raízes históricas vêm, então à baila e Edgar Figueiredo, auxiliado pelos seus companheiros, vai explicando que é «uma povoação muito antiga, Canas de Senhorim. Tem foral de D. Sancho I, de 1186, confirmado por D. Manuel em 1514. Foi concelho até 1852, recuperado em 1866 e perdido no 1º de Janeiro do ano seguinte».
Nelas, o adversário, «não tem tradições municipalistas. Canas já tinha dois forais quando foi elevada a sede de município».

Números
Canas de Senhorim remunera anualmente os seus trabalhadores com 355 mil contos de salários e contribui para a previdência social com 101 mil contos anuais.
A exportação de produtos da Freguesia traz ao país centenas de milhares de contos de divisas. O estado arrecada todos os anos 89 mil contos com impostos cobrados em Canas, isto é, mais do que em qualquer dos concelhos do distrito. O novo concelho ficaria com seis freguesias, cerca de 10 mil habitantes e 65 quilómetros quadrados de área. (números de 1980, fornecidos pelo movimento pró-concelho)






in Jornal o Diário, 28 de Janeiro de 1983

continua......

Um comentário:

Braulio Purista disse...

Meus Sr.(s) fica aqui o meu apreço pelo trabalho do Sr. Kunami , deste verdadeiro levantamento histórico, fico surpreendido por não vêr comentários ,sobre uma matéria que nos deveria interessar a todos os canenses, Canas já foi grandioso a nivel de economia, mas poderá vir a recuperar a sua vitalidade noutros campos, vamos fazer despertar a nossa grandiosa terra, viva CANAS.