sábado, abril 14, 2007

Jornal o Diário IV (continuação)


Como fica Nelas?

«Foi tendência do liberalismo», diz João Leandro Rodrigues. «Foi com o constitucionalismo que perdemos o concelho». «Mas Canas tem condições tão extraordinárias», diz Edgar Figueiredo, «que apesar de não ser concelho e ter sido sempre marginalizada, explorada e humilhada pelos mandatários concelhios, conseguiu superiorizar-se em todos os campos, pela exploração das condições naturais».
Uma das acusações feitas aos canenses pelos homens de Nelas é o de estes quererem, com a independência, o desmoronamento do concelho de Nelas. O que diz acerca disto o responsável pelo Movimento para a Restauração Município Canense?
«Diz que é falso. Fizemos um estudo e ele indica-nos que, se sair esta freguesia do concelho de Nelas, este concelho ficará ainda com um rendimento superior ao do vizinho Carregal do Sal, por exemplo».
E do Carregal, em comparação com Nelas, se continua a falar: «Com um rendimento inferior, o Carregal do Sal foi de todos o que melhor dotou as populações de infra-estruturas, no distrito de Viseu». (A alfinetada para Nelas:) «Não tem estátuas ao escansão, nem luzes sumptuosas e avenidas e estádios. Têm água e esgotos. Não esbanjam os dinheiros públicos….»
As administrações municipais nelenses são o principal alvo dos homens de Canas-a-Concelho. «Não temos nada contra a população de Nelas. Achamos até que ela também é prejudicada por estas más administrações. Em vez de água no verão deram-lhe luzes, cinco minutos de água e meia hora de vento!»
«Quando formos concelho», diz Edgar Figueiredo , «aceitamos perfeitamente uma federação dos três municípios. Nelas, Canas e Carregal. Somos vizinhos e estamos entre o Dão e o Mondego, ocupando as terras de Senhorim. Havemos de nos dar bem ».
Ao fim ao cabo, reafirmam, «queremos é que nos dêem o concelho que já tivemos, queremos gerir a riqueza que produzimos e aproveitar com isso». Vêm depois os números que damos em separado para não carregar a prosa e partimos à conversa com alguns canenses.

Tudo mais perto

Alberto Borges da Costa, comerciante, diz «que precisamos do concelho para a terra evoluir» e que «já se conseguiu fazer alguma coisa».
Para construir a sua casa de pasto, Alberto Costa «esteve à espera nove ou dez meses».
Para o pagamento de contribuições, para o recurso aos serviços oficiais «é preciso ter carrinho e ao preço da gasolina!...»
Com a Câmara em Canas de Senhorim, «ficava tudo mais perto; as coisas nas terras é como o código postal», conclui. Antigamente, para ir ao banco ia a Mangualde ou Viseu. «Agora, a dois passos, deposito o dinheiro ou meto um empréstimo. É o bem de ter as coisas à mão».
João Duarte, comerciante de Vale de Madeiros também é peremptório: «Ficava tudo mais perto e não éramos tão marginalizados em Vale de Madeiros. O povo que contribui tem direito a ver frutos das suas contribuições». E em Vale de Madeiros não se vê nada, acrescenta.
Para António Mendes Borges, outro comerciante de Canas, «a independência dava para nós vermos o futuro com melhores olhos», e para o alfaiate Joaquim do Couto «o dinheiro que sai do nosso trabalho deve reverter a nosso favor».
João Pereira da Silva gastou 360 escudos de táxi para registar um cão de caça que possui. Até isso lhe seria poupado pelo novo município.

A guerra do rápido

A estação ferroviária de Canas-Felgueira é a terceira do País em mercadorias expedidas pela CP. Porém, os canenses não têm direito a um minuto de paragem dos comboios rápidos da Beira Alta.
Este é um dos pontos da guerra de Canas. Os seus habitantes afirmam que a CP ganhou centenas de milhares de contos em 1981 só com os produtos transportados pela Companhia Portuguesa de Fornos Eléctricos. Prova disso é a entrega de mais de 5500 contos de bónus feita pela CP à referida empresa.

«Será que a população que dá os operários que produzem as mercadorias com que a CP ganha milhões não tem direito a um minuto de paragem do rápido?», perguntam-nos à porta da estação ferroviária.
«ainda por cima, os comboios param aqui para se cruzarem. Não podiam tornar esta paragem efectiva, vendendo bilhetes?», voltam a perguntar os canenses.
A CP responde que a paragem dos semi-directos em Canas é «economicamente inviável». «Quais são, então as viáveis?», perguntam em Canas. «Nelas, Carregal, Fornos de Algodres, Celorico ou Gouveia? Nenhuma destas estações se compara em movimento, movimento e tráfego à de Canas-Felgueira!»
E os canenses chamam ainda a atenção da CP e da opinião pública para o facto de a sua estação servir as termas da Felgueira, a estância de repouso da Urgeiriça e ainda as freguesias de Carvalhal, de Santar e as Termas de S. Gemil no concelho de Tondela.
«Não se percebe que uma pessoa de Canas tenha de gastar mais num carro de praça que a leve de e para Canas a partir da paragem mais próxima de um comboio rápido do que gasta num bilhete de ida e volta para Coimbra», dizem-nos.
«As pessoas que vão a banhos para a Felgueira ficaram perplexas e revoltadas com a passagem da estação de Canas, que utilizavam, à condição actual de apeadeiro».

Apresentam-se números: em 1980 foram vendidos na estação quase 21 mil bilhetes de comboio e foram expedidos de Canas mais de 5500 vagões de mercadorias. E diz-se mais: a não paragem dos rápidos da Beira em Canas determinou já a disputa entre várias empresas de camionagem no sentido de escoarem o tráfego existente para Lisboa.
Uma dessas empresas vendeu só no mês de Julho de 1982, só em Canas, 297 bilhetes para Lisboa.

«Canas tem (ou não) razão?» perguntam os canenses


in Jornal o Diário, 28 de Janeiro de 1983





6 comentários:

Tomahock disse...

Caro Mr. Kunami como não vi aqui qualquer contacto seu pedia-lhe para me contactar o mais rápido possivel para eu@tomahock.com
[]

Braulio Purista disse...

Mr.Kunami os meus parabéns pelo trabalho que têm feito ,pelo levantamento histórico sobre valores da nossa terra, Canas é grande e será sempre grande...

PortugaSuave disse...

É preciso continuar a reafirmar o nosso inconformismo. Bom documento.
Cumprim.

Mr Kunami disse...

Obrigado ao @Portugasuave e ao @Braulio.
Brevemente darei continuidade

MANUEL HENRIQUES disse...

Os meus parabens pelo post. A nossa geração tem a obrigação de injectar sangue novo na causa.

Mr Kunami disse...

"Nossa geração"???